Obrigada, Senhor, pelo dia que simplesmente raiou e com meus olhos posso ver a luz do sol. Aspiro o cheiro das flores, do capim ou do lixo que pairam no ar. Sinto cheiros bons e ruins, o importante é a capacidade que possuo para aspirar. Posso tocar coisas com minhas mãos, porque tenho mãos e com elas alcanço aquilo que desejo. Posso caminhar para buscar o que quero. Se tenho sede, posso me dar de beber. Se tenho fome, posso me dar de comer. Tenho perto de mim comida e água limpa... gelada! E, sobretudo, tenho onde reclinar a minha cabeça. Não me espanta o frio à noite, não me sufoca o calor ao meio dia. E as pessoas que me rodeiam não usam fuzis, nem há minas e explosivos nas ruas onde brincam minhas crianças. Meus parentes e vizinhos não são mutilados, estão bem vestidos e empregados. Possuem Bíblias e podem lê-las onde e quando quiserem. Coisas tão simples que no dia-a-dia esquecemos que temos, pois queremos sempre mais e mais. Em alta voz proclamamos algo do tipo: “nada dá certo pra mim!”. E lamentamos o fracasso de nossos caprichos. Perdoa-nos, Senhor, quando não agradecemos aquilo que temos, porque não consideramos essas coisinhas tão singelas que sempre temos e se tornam tão sem importância para nós. Todavia, em outros países tantas pessoas não têm nem mesmo as migalhas que caem de nossas mesas. Mutilados, nus, sentados em qualquer pedaço de chão sem teto, comem biscoitos de barro e raramente ouvem falar benignamente sobre teu nome, Senhor.
Margarete Solange, obrigada Senhor, 30.06.2010
Margarete Solange, obrigada Senhor, 30.06.2010