terça-feira, 15 de junho de 2010

O Negro Manto



Abutres...
Vejo-os sempre pelo caminho.
Insensíveis, festejam os mortos
– Que proveito há na morte para nós?
Inimiga cruel que nos separa de nossos amados
E não nos dá tempo de dizer adeus.
Um dia chega de súbito
E arrebata até mesmo os que parecem fortes.
Não se comove com o lamento dos que ficam
Enlouquecidos de dor.
Não sabe que mesmo que as lágrimas não brotem dos olhos,
O pranto esmaga por dentro nosso ser?

Impiedosa, sempre rodeando sorrateira
Como o exército inimigo que ronda as muralhas da cidade
Procurando tomá-la.
E ninguém jamais pôde contemplar sua temida face
Sem ter sido vencido por ela.
Porém os mortos não falam,
E, assim, os que dormem nos braços da morte
Não podem revelar-nos se ela é realmente atroz.
– Quem pode segurar seus braços gigantes
Quando ela chega decidida?
Quem pode resistir ao seu chamado?
Será terna sua voz ou será dura e cruel?
. . .
Misteriosa ela nos atrai para o seu negro manto,
E nos envolve em seus braços
Sem dizer palavras, sem apresentar razões.


Fonte: Margarete Solange Moraes, Um Chão Maior. Mossoró: Santos, 2001.

5 comentários:

nadijane disse...

Muito bem feita,ninguém nunca falou da morte dessa forma,e o pior ainda são os que morrem e não tem a vida eterna,aí sim,seu fim torna-se mais cruel ainda.Mesmo sabendo que se eu morrer hoje estou ganhando uma nova vida é muito difícil aceitá-la.
Legal a poesia,senti raiva na hora que a escritora estava escrevendo esta poesia.

Maresol disse...

Querida, Nadjane, não entendi essa parte quando você diz:

"senti raiva na hora que a escritora estava escrevendo esta poesia."

Como sou curiosa, gostaria que você me explicasse.
Um beijão, minha amiga e irmã em Cristo

Maria Jose disse...

Concordo com Nadjane, mesmo sabendo que existe uma vida eterna, fica dificil gostar da morte. Quando ela vem leva quem a gente ama, e deixa uma tristeza profunda, é dificil se acostumar e entender a morte.

nadijane disse...

Eu quis dizer que vc tem realmente raiva da morte e na hora de escrever o poema passou isso pra mim.

Maresol disse...

Ah, sim. ainda bem que ficou com raiva da morte e não de mim. rsrsr.
Sua amizade é preciosa. bjão